Solidão

Quando falamos em solidão vem sempre em nossa mente algo sofrido, dolorido e desprezado... Como se estivéssemos jogados ao vento pairando sempre nos caminhos mais inconstantes... Acho que a pior solidão é aquela acompanhada, é quando estamos cheios de pessoas em nossa volta, porem sozinhos, é aquele instante em que desejamos ardentemente falar ou ver alguém, mas só encontramos a visão de uma foto ou a imagem guardada na memória.

Existe a solidão da esposa que preparou um banquete de amor e o que a espera é uma noite de frio... E sua companhia são apenas os ponteiros do seu relógio.

Tem também a solidão de mãe velando seus filhos distantes, tentando aconchega-los em seus braços, mesmo tão ausentes.

É a solidão de um jogador batendo um pênalti sabendo que através desse chute estará a sua gloria ou o seu eterno fracasso.

Vejo a solidão de um médico com o bisturi, sabendo que em suas mãos hábeis estará à salvação ou a morte de mais um paciente.

Identifico a solidão dos compositores e poetas, neles a solidão se eterniza em versos e poemas... A dor se transforma em arte.

Sinto as lagrimas de desespero quando a morte nos chega sem pedir licença, levando um amor, um ente querido, uma amiga um irmão... Nos deixando em plena solidão.

Decifro a solidão de um político sério quando é obrigado a tomar decisões tão importantes para sua Comunidade, seu Estado, sua Nação.

Pressinto a angustia de uma amante quando em datas especiais não podem ficar com seus amores, tendo que contentar-se só com a presença da solidão.

É a solidão de tão presente muitas vezes se torna nossa companheira, com ela valorizamos cada instante, cada momento, cada segundo... Com ela aprendemos a valorizar a intensidade dos encontros e através dela ficamos preparados para a próxima etapa a SOLIDÃO.

Alberto Pires


ECOS DO TEMPO


Hoje amanheceu o dia nublado, pesado, com ares de tristeza, deparamos com a realidade nua e crua; não conseguimos identificar o porquê desse estado tão mórbido, vários questionamentos nos vêem em nossa mente... Será a precariedade dos sentimentos? Hoje vale muito mais o ter do que ser.
Os valores são conduzidos apenas por interesses pessoais não se oferece mais uma ajuda sem ter que em troca algo em beneficio próprio.
O carinho, a amizade, o companheirismo foram substituídos por palavras soltas no vocabulário dos egoístas, daqueles que não enxergam a pureza da entrega, eu prefiro doar sentimentos em vez de emprestá-los. Um olhar,um toque de atenção,um alô na hora que menos esperamos,são gestos curtos mais de muito puder,é como se dissessem estamos aqui,independentemente de onde estejamos...É isso que nos faz falta,a sonoridade límpida das coisas que nos enchem de prazer e acalmam nossos espíritos tão maltratados pela avalanche de coisas descartáveis que nos rodeiam.
Vejo jovens utópicos buscando a cada dia encher suas vidas vazias com viagens lunáticas através das drogas, drogas químicas, drogas musicais, drogas das vulgaridades estampadas nas capas das revistas, nos impondo ao padrão de beleza, drogas dos jogos dos computadores retirando do dia a dia as brincadeiras inocentes das nossas crianças, crianças trancafiadas nas telas dos aparelhos eletrônicos, refugiadas em suas casas.
Onde vamos parar? Onde está o BOM DIA? A BOA TARDE? A COM LICENÇA? O POR FAVOR?
São frases tão curtas e ao mesmo tempo tão importantes em nosso cotidiano, com elas adquirimos o habito de olhar nos olhos dos outros e constatar que ali está um ser humano, uma pessoa... E como disse o poeta “Gente é para brilhar e não para morrer de fome.”.


Alberto Pires


Camisão

Camisão que fez centenário e começou agora a engatinhar
Camisão de Maria do churrasco, a nossa doce Amélia.
Camisão dos políticos rufiões, que sempre teimam em nos conquistar.
Camisão dos delírios de Baga, nosso mais louco profeta.
Camisão dos homens assim, nossa prova que o futuro está chegando.
Camisão dos olhos azuis de Rubia, nosso cartão postal.
Camisão do futebol arte de Cal, nosso craque tipo exportação.
Camisão dos seios fartos de Tatuzinha, a nossa Mersalina.
Camisão das mulheres desafiadoras que não ficaram com o rotulo de piloto de fogão.
Camisão dos homens traídos, que perdoam em nome do amor.
Camisão de Julio doido, nosso homem da caverna.
Camisão de Nossa Senhora Santana, nossa protetora e segunda mãe.
Camisão dos falsos homens públicos.
Camisão da sabedoria e das criticas do Profº Reinaldo.
Camisão que ainda não sabe usar camisinha.
Camisão da voz grave e corajosa de Terezinha guerre-guerre a nossa Maria Calas.
Camisão dos puxões de orelhas da nossa Profª Julita.
Camisão da beleza negra de Marlene sempre temida pelas demais.
Camisão da alegria de Perninha, nosso doce sonhador.
Camisão que tem o Puxa, nossa inesquecível praça da primeira vez.
Camisão das beatas, nossas vigias que rezam pelos nossos pecados.
Camisão do Cine Ipirá, nossa primeira porta para os sonhos dos iniciantes.
Camisão da turma que viaja, pensando como matar a monotonia.
Camisão dos fofoqueiros das esquinas, que vivem tentando quebrar os telhados das casas dos outros e esquecem dos seus.
Camisão da arte e humor de Ninuncia, nossa Regina Case.
Camisão da educação e classe da nossa bela francesa Profª Hildinha.
Camisão que teve uma revolução cultural graças ao nosso eterno Bel.
Camisão que percorreu o mundo na voz que representa nossas raízes Raimundo Sodré.
Camisão que dominada por bichos, ficou paralisada no tempo em nome do poder.
Camisão que abriu os braços para uma mulher, e ela cuidou de uma geração, mostrou que com o esporte a vida tem cores diferentes, nossa desbravadora América.
Camisão do nosso criativo artista plástico Henrique,nosso eterno Aleijadinho.
Camisão da inteligência de Profº Arnaldo.
Camisão dos desfiles dos jovens utópicos da Casa dos Estudantes.
Camisão que como madrasta,não tem igual,recebe a todos sem nada a cobrar,como mãe recebe todos , mais cobra em dobro...
Camisão evoluiu e chegou a ser Ipirá.


ALBERTO PIRES