Interrogações

Author: Alberto Pires /


Esses últimos dias foram para mim um vendaval de sentimentos,emoções,descobertas e perdas...
Neles constatei como são dificeis os caminhos que temos de percorrermos até chegarmos à plenitude da palavra PAZ.
Os acasos,os percalços,os bloqueios,as setas nos indicando várias direções, a busca desenfreada para atendermos nossas expectativas perante a vida,são tantas perguntas que nos afloram: Como seguir?
Para onde ir? O que fazer? Existe vida após morte?.
A rotina constante,os exemplos cotidianos,os afagos em nossos anseios,é desgastante a cobrança que fazemos com nós mesmos,temos uma necessidade quase embutida em nossa alma.em que queremos
darmos sempre explicações em tudo que fazemos com nossas vidas,a familia,aos amigos,a sociedade...
Por mais que tentemos agir diferente,voltamos sempre ao inicio de tudo,como bem diz o compositor da música "COMO NOSSOS PAIS...".
Pude vivenciar a trajetória de um homem simples,de valores nobres,de uma postura perante a vida que nos encheu de riqueza humana,foram lições que irão nos acompanhar por toda a nossa vida...Ai chega à morte,invade nossas vidas sem pedir licença,ditando o horário,o lugar,o momento,nos atravessando feito um dardo,deixando-nos perplexos,pois quando amamos alguém,temos um amor egoista,por mais que saibamos a chegada da hora,queremos sempre prolongar esse momento,mais ai está um dos segredos da vida...Temos prazo de validade.
E ai, a vida nos brinda,com sorriso de esperança de uma criança,com a urgência de viver dos jovens,com a linda trajetória dos anciões.Somos irmanados nessa luta diária, nessa incansável batalha de nos entendermos e procurarmos entender todos que estão em nossa volta,pois só assim conseguiremos passarmos por essa vida, deixando marcas de fé,harmonia e solidariedade.

Alberto Pires

3 comentários:

Lilian Simões disse...

Estando eu ainda na companhia da minha saudosa avó,ao vê-la chorosa, indaguei em minha inocente curiosidade infantil o que teria lhe acontecido."Morreu a mãe da minha melhor amiga." Respondeu-me com um lenço abafando a voz.E porque voce não corre pra consolar sua amiga?Perguntei."Por que não é fácil Lílian,consolar a quem vive consolando a gente."
Lembro-me que acompanhei minha avó em todos os seus passos naquele dia tristonho.Ao perceber que estava sendo consolada por mim a quem todos os dias ela consolava,minha avó tomou-me pela mão e fomos encontrar sua leal amiga.E permanecemos lá ao seu lado.Nada dizíamos.E nem precisava.Há horas em que as palavras são o que menos interessam.Em nome da minha saudosa avó que tanto me ensinou e em nome da nossa amizade,eu estou do seu lado,Alberto Pires.Sempre.

Gusmão disse...

Alberto,
A sensação de perda das pessoas que amamos nos deixa muito tristes e também nos faz refletir sobre alguns valores em nós internalizados e ás vezes adormecidos.O tempo ameniza a saudade mas não cura,e nos faz questionar o real sentido da nossa existência...De repente partimos , só levamos a nossa história e deixamos as nossas referências!E a lição que devemos ter de tudo isso é que devemos levar a vida tentando ser feliz na simplicidade,adorando os amigos ,dando e recebendo amor,fazendo o bem...Para que possamos canalizar essa energia para lapidar o nosso espírito e termos a garantia de uma vida feliz após a morte,pq vida é energia e é claro que ela continua em outras dimensões...
Um bj no seu coração!
Lívia Gusmão

Carlos Henrique disse...

O sertão da Bahia amanheceu triste e sem graça no dia 03 de agosto, do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, de dois mil e oito; lá pelas quebradas do Camisão, numa terra entre as Pintadas e a Baixa Grande, depois da Barraca três léguas adiante, passando por Boca Rica, mas antes do Bom Viver, é que fica a localidade do Bom Sucesso; lugar simplesinho, onde o jorro d’água nos canos é coisa de ontem; onde a luz do lampião e do candeeiro era quem travava uma luta contra as trevas da escuridão até outro dia.

O sertão daquelas bandas parou de ouvir o brado forte do vaqueiro de 1910 chamando suas ovelhas na manga da frente da fazenda; levando-as apenas com os aboios para o confinamento de apenas uma noite; o sertão daquelas bandas vai ouvir mais os bramidos e chiados, os mugidos e latidos solitários porque o vaqueiro velho Caé finalmente se calou depois de 98 anos de labuta forte.

Jaguatiricas, juritis, cágados, porcos-espinhos, mocós, cascavéis, jegues, bois e emas se calaram após aquela manhã; todos involuntariamente resistiam à ação nefasta do silêncio, para tentarem em vão ouvirem pela ultima vez a voz do vaqueiro velho; do sertanejo que por pouco não virou sertanista, do avô e pai.

A casa já não era a mesma depois daquele São João de 2004, tudo ficou mais calmo e o pouco de alegria que ainda resistia, era por conta dele, do velho Caé, e isso acabou, se foi cumprindo o ritual do mundo, o ciclo da vida...!

O lamento que se ouvia era como os gemidos dos viúvos, expressados na solidão que é fera e devora; a mesma solidão que restará, como amiga das horas, prima irmã do tempo e que fará nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso em todos os corações que o amavam.

No oitão da casa, alguns badulaques me farão lembrar o velho vaqueiro; o nicho que abrigava alguns santinhos, hoje está encima do guarda-roupa, quase esquecido; no seu quarto, o velho baú que guardou por tantos anos um punhal e algumas outras tranqueiras típicas da gente daquele lugar; a cama de madeira deveria ficar imóvel como se estivesse num museu, o chapéu de palha final, elegante, deveria acompanhá-lo sobre o ataúde, carruagem de sua ultima viagem e o jaleco desbotado e surrado pelo tempo, se alguém encontrar, mande-me para que eu reserve um lugar de honra em meu gabinete, lacrado sobre vidros e uma placa indicativa escrita: “Isso aqui foi o manto de muitas batalhas do homem forte e honesto que foi meu avô e se chamava Judicael Pamponet Pires”.

Do meu velho avô, guardarei além de ternas e eternas fotografias, as lembranças de minha infância, os sermões constantes por minhas travessuras, da referência que ela exercia na região, por sua honra e seu caráter; guardarei para sempre, enquanto vida estiver, da saudade que sentia quando tinha que voltar a Capital e deixá-lo; guardarei para sempre a saudade que sinto agora, por saber que somente o verei quando finalmente eu deixar este plano.

-Vovô! Se puder ler minhas palavras daí, pede a Vovó Dete para fazer uma buchada de carneiro bem temperada, com pirão e um fígado ao redem, com água de moringa bem fresquinha, que um dia eu chego lá!

Que Deus Seja Louvado!


Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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