SAUDADE...

Author: Alberto Pires /


Tino da Sorveteria Vem Cá...

Foram doze dias de apreensão,suspense e lágrimas sufocadas...
Aparelhos monitoraram constantemente aquele coração que sabia amar,no leito hospitalar seus olhos me pediam explicações,de sua boca nunca ouvi uma palavra de desespero,tornou-se uma criança tímida e desprotegida,alimentei como se fosse meu filho,fiz tudo que estava ao meu alcance,tentei ao máximo trazer serenidade para aqueles momentos difíceis...Quando dei por mim ele não estava mais aqui...
A dor é cruel,sinto que a cada momento ele pode chegar da rua trazendo como sempre as novidades do cotidiano ipiraense.Os detalhes rotineiros...A poltrona onde sentava,o boné pendurado na fechadura,o amor pela política local( eterno jacu),a esperança de ganhar no jogo do bicho,as travessuras de esconder os doces proibidos por conta da diabetes...
Ele foi um homem amigo dos seus amigos,irmão daqueles que ele escolheu para ser irmão.Um avô carinhoso,brincalhão,deixou exemplos de paciência,tolerância e dedicação a sua família.
Parece um pesadelo,mais também tenho a sensação de dever comprido,não tenho um amor egoísta,jamais queria vê-lo sofrendo em cima de uma cama,com isso constatamos a transitoriedade das coisas da vida...
Ficaram muitas coisas pelo caminho,coisas que deixamos sempre para depois, e ai ela chega sem pedir licença,atravessa corações e o que nos resta é orar e pedir que sua passagem aqui na terra não tenha sido em vão...
Muita saudades entre lágrimas...

Alberto Pires



7 comentários:

Crônicas do Imperador disse...

Beto,

Ainda ontem, chorei em silêncio a ausência de Vovó Dete; depois, de Florisdete; nosso eterno avô Cael também nos deixou; agora Tino...
Misericórdia! Será que estou ficando velho? Será que a vida não nos dará sossego até encontrarmos todos numa galáxia destas qualquer sorrindo e brindando a eternidade?
Não tenho e nem quero as respostas!
Quem me conhece sabe; eu não quero ver ninguém num féretro; é coisa minha; coisa de quem aceita a morte, mas não a encara por medo ou por desilusão...
Sei que um dia chegará minha vez, a vez de meu pai, de minha mãe, sei lá; sou egoísta mesmo, aliás, egocêntrico; queria ver mais aqueles que com quem convivi na infância; mas assim é a vida; assim são os pergaminhos do destino...
Tino deve estar agora jogando gamão com Deus; Dete e Florisdete estão conversando fiado e Cael, este com certeza está cheirando pó (rapé) num banco de madeira, esperando a hora de aboiar o gado ou de comer um pedaço de rapadura...
Fé; luz, fraternidade, liberdade e sapiência; precisamos todos nós para não nos abater com as notícias...

Minhas condolências...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Lilian Simões disse...

Alberto,se como amigo eu posso tão bem avaliá-lo,como filho,foste o melhor que um pai poderia ter.Muita força e..."muita luz".
Nesta sexta-feira estarei na missa de 7º dia às 19 h se Deus quiser, nos encontraremos lá.
Abração.

Anônimo disse...

Meu lindo amigo,
Como te direi....Talvez assim:
"Fica sempre
Um pouco de perfume
Nas mãos que oferecem rosas
Nas mãos que sabem ser generosas..."


A vida me ensinou... A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.

Você Alberto, será sempre um especial amigo!

Que "Seu" Tino, repouse em paz nos braços do Senhor!

Maria Fernanda de Britto Cintra disse...

Querido Alberto,

Entendo sua tristeza, sua dor... e deixo aqui meus sentimentos!
Sei da dor de perder alguém que ama, e acredite, mesmo não tendo cura, com o tempo ela se torna mais amena e aprendemos a conviver com ela.
Só posso pedir para que Deus conforte seu coração... tenho certeza que "Seu" Tino está em paz e olhando por ti.
Fica com Deus e mta fé, sempre!

Um beijo carinhoso...

Rodrigo Ribeiro disse...

sentimentos alberto.
meus pesames, um abraço.

Marcelo Soli disse...

Morar no interior, ainda preserva uma característica muito peculiar. As pessoas se tornam “celebridades” pelo fato de serem maravilhosamente como são. Ainda nesses lugares, os adjetivos que tornam uma pessoa celebre, são os mesmos há muitos anos. Ser um bom pai de família, respeitador, membro integro da sociedade. Que bom é viver em lugares onde esses e outros nobres valores são determinantes para a eternizarão das pessoas na vida da cidade. Há pessoas que. Alem disso, passam a fazer parte da paisagem da cidade, como Seu Tino sentado a frente da sua casa, a barraca do couro de meu avô Arlindo, o bazar de Meu avô Zé Borrada, o cheiro de chá mate que minha avó Zizinha tomava ás 6 da tarde assim que começava a novela... È triste viver e ver as pessoas partindo. Ainda mais pessoas que carregavam tantos valores. São muitos os nomes que a saudade chama e infelizmente, a morte é a única certeza da vida.

Abraço a todos!

Gusmão disse...

Dói bater a cabeça na quina da mesa, Dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem estas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar no quarto e ela na sala, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela pra faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber, não saber mais se ela continua fungando num ambiente frio. Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. Não saber se ela ainda usa aquela saia. Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada, se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet, a encontrar a página do Diário Oficial, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua preferindo Malzebier, se ela continua detestando McDonalds e ele continua amando. Se ela continua a chorar até nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música. Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isso que eu estive sentido enquanto escrevia
E o que você provavelmente estará sentindo depois que acabar de ler.

Miguel Falabela

Postar um comentário