O IPIRÁ INOCENTE

Olhando minha terra, quanta saudade sinto dos velhos tempos onde brincávamos entre as palmeiras imperiais, brincadeiras essas que hoje não mais se vê... Triângulo, guerrô, bater nas portas dos vizinhos e sair correndo, futebol, baleado, deitar nas correntezas formadas nas chuvas em frente à casa de Dona Ilda, pião, amarelinha, Chico duro, cobra cega, pipa, picula, etc...
Quantas coisas inocentes fazíamos naqueles tempos: o medo dos guardas municipais, que apitavam cada vez que pisávamos nos jardins... As perseguições contra Mané Rádio, Loló, Julio Doido, Maria Pé de Cachorro e Lucia Pau... Quantas risadas dávamos dos Judas na Semana Santa, quanto desprendimento em subir várias vezes no Monte Alto para pagarmos nossos supostos pecados! O corre-corre com medo do Bode Preto que vivia passeando em nossas ruas, era o mascote ipiraense... Por onde andará tudo isso além das nossas doces lembranças?
Hoje o que vejo são crianças sem serem crianças, inocentes que ultrapassam as fazes de suas vidas por intermédio da mídia que ditam modelos, formas, exemplos de como ser uma criança adulta... Quanta mediocridade, quanta coisa descartável, quanta falta de sensibilidade...
Que bom ter vivido naquele tempo onde a inocência era uma presença constante em nossas vidas! Obrigado aos deuses que nos colocaram entre pessoas que dividíamos nossos momentos alegres e eternos, registrados em nossas memórias. Como é bom saber que essa onda de saudosismo não é só minha, meus contemporâneos têm os mesmos pensamentos e vejo que por mais que a vida nos leve por caminhos distantes a nossa essência não é e nem será perdida dos nossos valores.
Que saudade dos nossos micaretas onde a nossa comunidade vivia a euforia dos grandes carnavais... Os carros alegóricos que se apresentavam às mulheres mais desejadas da cidade, o nosso eterno Rei Momo Henrique Teles Maciel, os blocos carnavalescos mais marcantes, a Banda Extra nos hipnotizando com a presença de Roque Lui, Virgilio com sua presença alegre e futurista.’A “segunda feira gorda” do Ipiracy Tênis Clube, no qual todos os bichos se misturam com a mais profunda democracia. E as gincanas? Elas foram um marco da nossa historia visto que foi idealizada pelo nosso inesquecível ROBERTO CINTRA o homem de visão além do seu tempo que marcou para sempre nossos corações. A cidade era varrida por todas as gerações procurando incansavelmente terminar todas as tarefas.A performance histórica de Marcelo Brandão cantando Tete Espindola, a de Nilton vestido de babá empurrando Lucia Pires no carrinho de supermercado, Puluca Pires, “O homem verde” que coisa mais artística não houve isso sim é cultura: Jovens, velhos, crianças, jacus e macacos todos irmanados para chegar ao objetivo final à entrega no horário de todas as tarefas, isso sim é democracia a união de todos independentemente de cor, raça, sexo, religião, partido político.Graças a Deus vivi isso e tenho orgulho daqui relatar. As festas da padroeira Nossa Senhora Santana, foi também um capitulo a parte onde o profano se misturava com o religioso onde todos que moravam fora viam para esse grande encontro de famílias, amigos e amores, as procissões com os cânticos religiosos cheios de esperanças para toda a população. E as batalhas esportivas entre a seleção de handebol feminino contra todas as cidades vizinhas, Ninuncia, Brechó, Biló, Ivana, Irandi, Nega Vilma, Ivana Cabelinho, Vilma, Roseane, Selma, Margarida, Nadja... Enfim entre tantas jogadoras maravilhosas que marcaram suas presenças no cenário esportivo ipiraenses. Outra coisa marcante em nossas memórias é a briga dos jacus e macacos...Essa saga marcou e marcará sempre a nossa historia...Sangue, suor, palavras, calunias, ficção, amores e desamores elementos constantes nos romances policiais, porém esse é nosso, totalmente ipiraense.
Com esse aniversário a nossa eterna jovem Ipirá me fez ter essa onda de melancolia sadia, em mais uma vez constatar que amo essa terra, esse chão, essa gente...
Só queria que a Ipirá Inocente voltasse, pois só assim teríamos um futuro mais promissor...

Alberto Pires


(Parte I )

7 comentários:

Lilian Simões disse...

COMO VOCE TÃO BEM JUSTIFICOU,AS CRIANÇAS DE HOJE SÃO UM PRODUTO DA MÍDIA.SEGUE AQUI NA MINHA ORDEM DE CIMA PARA BAIXO,OS QUE DEVERIAM SER CONTRA ESSE TIPO DE APELAÇÃO "GLOBAL" MAS, NÃO SÃO.

LULA E DONA MARISA-Ternos,gravatas(Yves Saint Lorran) e sapatos italianos.Bolsas femininas artesanais do Ceará?Claro que não. Dona Marisa,usa PRADA E CHANEL. A chamada grife européia e o famoso Pret a porter que enriquece os gringos.Tem adolescentes em SP e RJ matando,pra roubar tenis nike.Aqueles que Fernando Collor em seu governo, usava pra fazer seu famoso cooper.
É a supervalorização de tudo que vem de fora,em detrimento de tudo que nós fabricamos. MC.DONALD,BOB'S aos olhos do tabaréu é coisa chique.Quem vai querer comer na cantina da Dona Benta? Só mesmo aqueles gatos pingados que não assistem os Big Brothers Bra$il da vida.
A novela,a mãe de toda burrice,tá aí mesmo pra não me deixar mentir.É ela quem manda hoje em dia na casa de todo brasileiro,com poucas exceções.Uma menina que aos 9 anos se veste como uma "vedete à procura de emprego",é porque a novela manda e quem primeiro obedece são OS PAIS.
Os que estão acima dão péssimos exemplos,são eles que sufocam os nossos valores e a nossa cultura.Aqui em nossa cidade temos numa praça personagens do WALT DISNEY,decorando um espaço que poderia ser tão lindamente ocupado com personagens da nossa cultura como Emília,Visconde de Sabugosa o Monteiro Lobato,é nosso,o Brasil precisa ser mais nosso,assim como Ipirá não deve fugir de sua proposta de que seria de TODOS NÓS.Acho que a coisa começa a se perder a partir daí.Quando as pessoas começam a renegar sua cultura,seus próprios valores.
"Perto de ti o riso é meu lar
sou terra do chão de Ipirá"

Um abraço a todos os Ipiraenses e a pequena MARIANA que tanto me encanta.Ela é um sonho de menina
que eu trago da minha infância.

Unknown disse...

Alberto,

Esse texto está excelente. Fiz uma viagem para um tempo em que os ventos eram mais gostosos e as flores mais perfumadas.
Não sei se é saudosismo, mas o velho chavão é válido: como era bom aquele tempo!

Parabéns.

Gusmão disse...

Pôxa,que pena que dessa vez não vou poder trocar muitas idéias com vc,porque esses tempos áureos não fez parte da minha geração.Mas posso me lembrar de "importantísssimos"micaretas e gincanas ...É uma pena que hj temos uma juventude em que sua maioria internaliza valores distorcidos pela falta de apoio familiar, e de boas referências de vida.
Um bj grande pra vc!
Lívia Gusmão

João Gusmão Dultra disse...

Olá Aberto,

Apesar de conhece-lo apenas de Vista admiro sua obra,de fato como disse minha irmã,os valores estão invertidos a muito tempo,apesar de não ter vivido essa época aurea de Ipirá com tanto afinco,lembro-me ainda com alguma saudade dos tempos de paz que viviamos no interior...onde durmiamos de janela aberta,viajamos para roça de nossos avós sem receio e tinhamos uma vida simples mais feliz,hoje o que notamos é uma distorção de coisas provenientes também pelo crescimento da cidade,avanço tecnológico e de uma certa forma o acesso as informações, no entanto a maioria das pessoas absorvem isso de forma erronea e acabam não usufruindo da forma correta de alguns meios de comunicação,a Internet é o maior exemplo...mas é isso...para quem viveu os bons tempos saudades,para quem não pode viver o que nos resta é relatar.
Um abraço
João Marcelo Gusmão Dultra

honosilva disse...

Beto, parabéns pelo texto.Uma viagem ao passado legal.Quando você fala dos zeladores de jardinslembro-me do finado BAU.Nas figuras de Ipirá recordo-me Roberto Pé de Pato, primeiro entregador de Jornal de Ipirá.Acrescente-se à viagem os desfiles cívicos de 07 de Setembro, na aguerrida disputa das Bandas do Colegio Normal Cenecista e Escola Polivalente.As figuras descritas do time de handboll lembrei-me da Prof.América, introdutora do esporte no municipio.Os carnavais do Caboronga(Jacu) e do Ipiracy(Macado).A probição dos nossos pais de frequentar o clube do lado oposto e quem mais sofreu foi Chinha de Prudencio ir ao Caboronga e Zé Pato frequentar ao Ipiracy.Toinho de Zequinha, Tonho Boa Jega e Eu quebramos o paradigma e os levavam as escondidas para os bailes.
BETO,permaneça assim mostrando seu talento.Forte Abraço, do primo ZI.

Manoel Hito disse...

Parabens Alberto.
Você me fez relembrar minha infância..., o Palmeiras da praça,(filhos de Aldo), o Bahia do Puxa (Toba de Wilson), o Itália da rua da Tripa (Bicudo), além de todos os fatos relebrando por você. Tive o prazer de mostrar seu texto para meus filhos menores e dizer-lhes.
"Nós que vivemos este tempo, tivemos infância"
Faltou vc lembrar do Ipi-Rio, o bloco carnavelos que traziamos do Rio de Janeiro em todos os carnavais de Ipirá.

Abraços, Manoel Hito.

Beth Berenguer disse...

Viajei no tempo!!!
Percorri mil anos em segundos.
Como é bom reviver a infância querida, "da aurora da minha vida, que os tempos não trazem mais...", sei lá.
Noooooossa...!!!
Você teletransporta o nosso momento, mesmo que nem de perto coaduna com o seu, nem em tempo, nem espaço. Como você consegue???
reafirmo, portanto, que ser sensível e ser Alberto Pires, que com palavras simples consegue amontoar lembranças que serão eternizadas nos nossos espíritos.
Obrigada amigo.
prometo, aqui e agora, (sem utilizar promessa de político), que serei uma visitante constante no seu Blog, pois você é um presente para quem o visita.
Um super bjooooooooo
Beth Berenguer
30.06.2008

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