O amor da Rosa...

Author: Alberto Pires /

Era Corpus Christi e toda a avenida estava ornamentada com tapetes feitos com sementes, cordas, pétalas de flores entre outros tantos materiais coloridos para embelezar essa tradição. Eu estava na janela vendo aquela festa de comunhão, amor e fé; e no piscar de olhos pude perceber aquela imagem espetacular vindo em minha direção, parecia até uma aparição, um devaneio, uma miragem... Ela tinha uma pele branca como a hóstia consagrada, o sorriso enigmático que ao mesmo tempo parecia celestial e em determinado momento uma sensualidade totalmente evidente naqueles trejeitos... Parou em minha frente e me pediu um copo de água e disse-me que estava com muita sede, pois tinha vindo de um povoado andando, pagando uma promessa, toda vestida de branco, era um vestido de linho de cintura baixa todo bordado de rendas feitas pela sua avó, o cumprimento era acima do joelho, não era justo, mais desenha muito bem as suas curvas, deixando claramente evidente a bela mulher que estava em minha frente, então perguntei o seu nome ela sorriu como se estivesse envergonhada e respondeu: Rosa Menina; ai foi eu que sorri e perguntei tem vergonha do seu nome? Disse ela então; não de jeito nenhum apenas as pessoas acham estranho esse nome, foi ai que percebi que encontrei a minha perdição, a minha insônia, a minha desilusão e o meu amor eterno... Deixei-a esperar no jardim da minha casa sentada em uma cadeira de vime onde sua beleza combinava totalmente com aquele colorido canteiro, peguei a água na moringa e coloquei o copo em cima de uma bandeja forrada com um pano de crochê, vim com as pernas bambas, sem saber como seria a minha reação em vê-la novamente espantosamente angelical; mais eu tinha que enfrentá-la  e logo fui em direção a ela sentada majestosamente naquela cadeira...Logo que sentiu a minha presença foi levantando assustada, então disse fica a vontade e descanse mais um pouco, sinta-se em sua casa, estendi a bandeja em sua direção e ela pegou o copo e bebeu todo de uma vez, deixando escorrer água pelo canto de sua sedutora boca, aflorando assim a minha louca imaginação...Ela quase  engasgou mais pegou um lenço de linho branco que estava em sua bolsa e enxugou seus deliciosos lábios, sem deixar nenhum vestígio de água, ao colocar o lenço na bolsa ela não percebeu que o lenço caiu em cima de uma roseira e eu também não e  foi logo me agradecendo e indo em direção ao portão, pois a procissão já estava quase no final do cortejo, olhou-me  profundamente e agradeceu a minha gentileza e saiu deixando unicamente o seu cheiro de rosa no ar... Na frente do meu portão fui ficando cada vez mais sem aquela imagem que foi acompanhando o cortejo e sempre olhando para traz até sumir da minha visão, ao entrar levitando com meus pensamentos pude perceber que no jardim estava um pouco dela, era o lenço que havia caído de sua bolsa deixando assim a sua presença fincada em meu coração, corri peguei o lenço e cheirei como se fosse ela própria, e tive a sensação que estava tocando à pela dela, com todo o desejo que ela despertou em mim, não fui atrás para devolver o lenço, era um pedaço dela que não podia perder, mais o que fazer se não sabia qual o nome do povoado em que ela morava... Essa duvida permaneceu em mim por vários dias, pois já sabia que nosso amor estava fadado ao fracasso mesmo antes de começar...Ai veio uma interrogação persistente será que ela deixou o lenço cair justamente para eu ir em sua busca? Ou foi uma mera distração? Então fui tirar isso a limpo, mesmo sabendo de como iria ser difícil ver esse amor terminar sem antes mesmo de começar... Fui até a matriz e me informei com as freiras, descrevi em detalhes a pessoa e elas não conseguiam recordar, foi então que disse o nome magico : Rosa Menina, foi ai que ambas olharam uma para a outra e respondeu  agora sim, sabemos o endereço dela, é moradora do Povoado do Jardim Estrelado, é filha do Coronel Cravo de Albuquerque e de Dona Margarida, é filha única e veio a procissão pagar uma promessa para sua mãe que estava passando por um problema de saúde, foi então que disse as irmãs vou procurá-la para devolver um pertence dela, a Irmã Begônia disse vá com pressa pois ela está de viagem marcada para São Paulo e não sei se conseguirá encontrá-la a tempo, mais vá com Deus ele há de iluminar você nessa jornada. Fiquei com o coração apertado e ao mesmo tempo confiante nessa missão, fui então para minha casa me arrumei com a melhor roupa que tinha, perfumei-me e parti... Ao chegar no povoado encontrei um senhor e perguntei onde mora Rosa Menina? Ele respondeu: atrás da capela na melhor casa daqui, ela está de viagem pronta, corra para ver se ainda acha, sair então com o coração aos pulos e fui nessa louca empreitada, em toda minha vida nunca tive a coragem de expressar o que realmente sinto a ninguém e por isso estou aqui a mercê desse amor que tomou conta do meu peito, enchendo meus dias frios de calor e esperança ao encontrar a Rosa do meu eterno jardim. Fui e entreguei-me ao destino, quando cheguei à frente daquele casarão pude perceber o quanto seria difícil o meu amor... Bati palmas e com as mãos molhadas de suor continuei rezando internamente  para que minhas preces sejam ouvidas, e uma delas é que pelo menos ela me ouça...Ouvi então o ranger da porta de Jacarandá e apareceu por detrás a mulher da minha vida, a continuidade do meu ser, a esperança dos meus dias tristes, a resignação de todos os meus tormentos...Ela então surgiu e perguntou você aqui? Antes de responder veio um rapaz mais belo que o anjo Gabriel e disse você conhece amor? Conheço sim, mais nem sei o nome, essa pessoa foi muito gentil na procissão, deixou-me descansar em seu lindo jardim e me ofereceu água para matar a minha sede, mais me responda agora qual é o seu nome mesmo? Eu gaguejando respondi com lágrimas escorrendo nos olhos meu nome é Rosa Maria, e vim aqui justamente para te entregar um pedaço de ti que ficou em meu jardim... Ela ficou assombrada e perguntou:
Um pedaço de mim? Sim o lenço que você deixou cair de sua bolsa, ela sorriu e disse não precisava se incomodar com isso, quando ia começar a falar o cara disse despeça-se de sua amiga que já estamos indo... Foi então que ela olhando nos meus olhos disse: fique com esse pedaço de mim, é uma prova do nosso amor... Assim vi a minha outra metade acenando para mim em despedida e eu retribuindo com seu lenço... O amor das rosas que ficaram apenas com a palavra cheia de espinhos que é ADEUS...
        

6 comentários:

Unknown disse...

Muito bom este conto, amei, arrasando como sempre!!

Abração!

Alberto Pires disse...

Marcos Cajaiba disse no face: estou sentindo o perfume da rosa aqui... belo texto

Alberto Pires disse...

Elizabeth Barbosa Dos Santos disse no face: Estava lendo,amor é sempre amor...

Alberto Pires disse...

Marina Sodré Barreto disse no face:Nossa que lindo!!! Amor intenso...bem propício as rosas que recebi hj!!! Vc arrasando como sempre na intensidade das palavras Alberto Luiz Pires Silva. Bjão

Alberto Pires disse...

Senhor das Palavras disse no face: Eu ficaria muito triste se no seu livro estivesse apenas as belas poesias que escreve, por que seus contos são tão bem feitos que eu sempre anseio pela nova história. Você me leva para o camisão de uma forma tão forte que ameniza a saudade
de lá. E isso é importantíssimo para mim, acho que devemos conversar mais vezes quando eu voltar ao Camisão. tenho muito a aprender com a sua pessoa. Sinto intuitivamente isso dentro de mim. Salve, Salve!!!

Alberto Pires disse...

Ulisses Dumas disse no face: sempre torço para final felizes, mas a história é bastante comovente. Torço pra que tudo sempre fique bem no final

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