
Era inverno e as nuvens estavam
iguais a mim. Tristes, escuras, ameaçadoras... Sou filha única, meu pai deixou
a minha mãe e partiu sem dizer adeus, com isso fui criada em cima de rígidos
valores, até porque minha mãe é evangélica, achou que na religião poderia
encontrar a paz que tanto necessitava, acho até que ela tem razão em pensar
assim, pois se não fosse a sua fé ela não teria tanta força para conseguir
juntar os meus cacos... Quando fiz dezoito anos ganhei de presente o pior dos
presentes: uma paixão! Sabe aquela paixão desenfreada, enlouquecida, que não vê
obstáculo capaz de nos fazer desistir? Ele era mais velho que eu, deveria ter
uns vinte e cinco anos, na primeira vez que eu o vi tive a certeza que aquele
cara seria o meu fim, mas mesmo assim fui em frente, ignorando todos os avisos:
Perigo! Atenção! Área de risco... Mas o sorriso, o olhar, a virilidade, o jeito
compenetrado e destemido, o cheiro amadeirado, o pegar no seu órgão, tudo nele
era muito provocante e sedutor, e para completar ele era do mundo das drogas,
com seus olhos negros lindos que tinha uma neblina cheia de aventuras a
convidar... Era um cara totalmente elegante ao seu modo, quando estava comigo
não sentia falta de nada, preenchia todos os requisitos, mas seu olhar era
traiçoeiro, parecia que tinha um radar, principalmente quando uma fêmea se
aproximava , fugia do controle, ele queria tudo e todas; ele era insaciável.
Tudo começou assim: Um belo amanhecer fui para a aula de educação física,
quando sai da minha casa e virei à esquina da minha rua, ele estava na espreita
como se fosse um felino esperando a sua caça... Deu-me de presente matutino o
seu lindo sorriso, não qualquer sorriso, mais o sorriso dele... Passou a língua
entre os lábios e disse: quer uma carona mulher? Eu baixei a cabeça e disse:
não obrigado, estou indo a aula; ele percebendo o meu nervosismo, saiu do
carro, pegou a minha mão e logo foi falando: não se preocupe só vou fazer o que
você desejar, e sorriu com um cinismo próprio dos adoráveis cafajestes, então
hipnotizada cai na cilada e entrei no carro, minhas pernas tremiam, sua
masculinidade era evidente, estava com a camisa aberta e pude ver cada pêlo dos
peitos ao umbigo, ele me fitava pelos cantos dos olhos sabendo como ninguém o
quanto estava difícil aquele momento; passava à marcha e sua mão roçava em
minha coxa, era um jogo de pura sedução e minhas forças já estavam indo embora,
meu coração batia descompassadamente, ele então me perguntou, quer mesmo ir
para a aula? Tenho que ir respondi, ele então parou o carro e me puxou para seu
corpo e me roubou um beijo, nunca vi tamanha habilidade com a boca, fui
revisada, paralisada, senti um frio na barriga, ele não satisfeito colocou uma
musica de Rita Lee e cantava olhando fixamente para meus olhos e repetia: você
me dá água na boca... Foi golpe sujo por que o pouco de juízo que ainda restava
foi por água abaixo, ele passou a mão em cada parte secreta do meu corpo, e
quanto mais ele fazia isso mais temor eu sentia, e não queria que o tempo
parasse. No intervalo de um beijo ele perguntou posso abrir a sua blusa? E a
vergonha em dizer para ele o meu segredo?... Por sorte, minha prima me viu
dentro do carro e bateu na janela dizendo: saia dai porque Tia Genoveva tá
vindo ai... Sai em disparada, e ele perguntou: quando iremos nos ver? Eu
respondi qualquer dia... Na saída do carro as pressas, ele colocou o numero do
seu telefone em minha mão, por sorte a prima Zefinha não viu e foi logo me
dizendo você está doida? Entrando no carro de Zangão, tudo sabe quem é ele? Não
quis saber do relatório dessa minha prima mal amada, fui entorpecida para a
escola, não fiz nenhum exercício físico porem estava toda quebrada da tensão
muscular... Passou uma semana e não o vi, mas os seus beijos ficaram encravados
em mim, seu cheiro impregnou-me, minha cabeça não parava de pensar, ligo ou não
ligo? Mais o pior já tinha acontecido, deixei esse cara entrar em minha vida.
Os dias que se passaram foram terríveis, pois não liguei e nem ele me procurou,
fui então no sábado a tarde procurar uma amiga na sorveteria, quando entrei dei
de cara com ele e uma menina, não pude disfarçar a minha surpresa, fugi daquele
local como se fosse uma criminosa, fugindo da viatura... A imagem dele com a
garota não saia da minha mente, então resolvi ligar, esse foi o meu grande
erro... Ao dizer alô é o Zangão? Ele ironicamente respondeu sim sou eu mulher,
então respondi: quero conversar como você é possível? Ele sorriu e respondeu: é
claro, você que manda, é só dizer dia, hora e local... Zangão como o próprio
apelido diz “espécie de abelha, que não fabrica mel, e come o que as outras
fabricam”, assim é ele uma abelha cheia de mel e ferrões... E hoje o que mais
me lembro dele, são os ferrões... O dia do encontro foi uma segunda feira à
tarde, ele ia me pegar saindo da escola, me esperou em uma transversal perto da
Ótica Simões, quando cheguei ao local ele já estava com uma bermuda jeans e uma
camiseta branca, realçando ainda mais a sua cor, tinha acabado de tomar banho,
usava sempre à barba por fazer deixando a sua virilidade muita mais aflorada,
entrei e logo ironicamente me perguntou vamos para que local, e eu decidida
respondi: para onde você quiser... Ele apenas me olhou pelo canto dos olhos e
me disse que seja feita a nossa vontade e partiu em velocidade... Chegamos a um
sitio próximo a nossa cidade, estava tudo desarrumado, mas a beleza do momento
me fez pensar que estávamos em um castelo, no canto tinha vários instrumentos
rurais, e no meio da sala estava um colchão velho, então percebi que era ali
que ele recebia suas “amigas”... No final do corredor tinha uma peça com
garrafas de bebidas, ele me perguntou quer água? Ou refrigerante? Eu respondi:
nada, quero apenas conversar com você, então ele me disse então venha para cá
fique bem perto de mim quero olhar para você, me aproximei e o calor do seu
corpo incendiava o meu, não houve tempo para nenhuma palavra, ele me pegou
pelos braços e me carregou até o colchão, e sua barba passava em meus ombros e
eu toda arrepiada dizia: não faça isso; vai me machucar, ele olhava fixamente e
me cobria de beijos, aqueles beijos que só ele sabe dar, fiquei ansiosa,
trêmula e desconcertada, mais tinha que dizer a ele... Zangão espere um pouco,
ele já estava enfiando as mãos por debaixo da minha blusa quando parou; fale:
nunca fui para a cama com ninguém... Ele sorriu com os olhos e respondeu;
sempre tem a primeira vez... Me abraçou e falou baixinho no meu ouvido posso te
garanti você nunca mais vai esquecer... Tirou cuidadosamente a minha blusa, com
os dentes tirou a minha roupa intima , dizendo baixinho vou te fazer mulher,
pois é isso que você quer, passou a língua no meu corpo e umedeceu todo o
percurso feito, quando tirou a calcinha do caminho, parou e olhou
carinhosamente e falou: venha despir-me também... Nunca tinha visto um homem nu
pessoalmente, mais que grata surpresa, ele deve ter um metro e oitenta de
altura, pele morena com um bronzeado natural, cabelos negros, boca vermelha, um
corpo musculoso sem ser malhado, totalmente hábil com as mãos, ele me deu de
presente esse lindo e eterno momento; entreguei-me e como foi bom e intenso
esse acaso do destino.. Com sua sedução me fez acreditar loucamente em suas
juras de amor... Fui para casa como se fosse um pássaro livre, desses que
embelezam jardins imaginários, como foi lindo aquele instante... Ao acordar no
outro dia tive uma grande surpresa: Zangão tinha sido preso, por tráfico de
drogas e para minha surpresa ele usou meu nome como álibi, dizendo que estava
comigo naquele momento e eu tinha que ir depor na delegacia por conta disso...
Minha mãe já estava sabendo de tudo e perguntava isso é verdade? Eu estava no
meio de um pesadelo que não sabia como acordar. No intimo queria ajudar o meu
amor, mas ao mesmo tempo sabia que com essa atitude eu mataria a minha mãe de
tanto desgosto; não pude evitar as duas coisas, confirmei ao delegado a versão
de Zangão, e decretei o meu fim e o da minha mãe, pois a nossa relação jamais
voltou à mesma, na escola todas as amigas afastaram-se fiquei só com o meu sentimento, Zangão por não ser
réu primário ficou detido e ai começou o meu fim, cada visita que eu fazia,
voltava arrasada, pois ele começou a pedir-me coisas, das quais eu não tinha
acesso, mais por meu amor eu comecei a envolver-me nesse caminho sem volta, um
certo dia ele falou que queria uma prova de amor minha, e então respondi você
não acredita no meu amor? Ele olhou-me com ameaça e pediu que levasse drogas
para ele, e eu perguntei como vou entrar aqui com isso? E naturalmente me
disse: coloque na calcinha se possível dentro da vagina, e o pior que segui as
instruções como ele me pediu, fui com a droga dentro de mim, e na sala da
revista ele tinha um soldado que era corrupto e deixava passar sem ser
revistada, e ai fui ao encontro dele na sela, usava uma saia rodada e cheguei
próximo à grade e recebi um puxão e fiquei rente a ele, me fez virar as costas
e aos poucos foi levantando a minha saia e enfiou as mãos dentro de mim como se
fosse um ginecologista... Com a minha inocência achava que eu era a única a
fazer isso, porém um certo dia, um policial me chamou e disse; menina saia
dessa; a pior coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa é ter um amor
bandido, acorda, isso não vai te levar a nada...Eu já havia percebido o carinho
e a gentileza desse Sargento Cintra, desde a primeira visita; cheguei muito
nervosa e ele sempre muito atencioso tentou acalmar-me. Então perguntei o
senhor esta falando isso porque? Porque ele tem várias namoradas e toda vez que
você vem aqui às outras não vem, ele manda avisar para que todas não se
encontrem na mesma hora, venha sexta feira e você verá com os próprios olhos...
Passei toda semana angustiada até chegar o dia marcado, fui mais cedo e o
Sargento Cintra me colocou em uma sala isolada, até a outra visita chegar,
quando a visita começou ele veio me avisar que podia entrar, e eu com as pernas
bambas fui confirmar que tudo não passou de um engano, era apenas mais uma na
vida daquele 171, sair correndo até a sala em que o Sargento me escondeu, e lá
pude colocar para fora todo meu rancor, meu ódio, meu remorso por acreditar
naquele homem e não ter dado ouvido a minha mãe, e vinha em minha mente e
agora? Como vai ser daqui para frente? Foi então que o Cintra falou: você tem
uma pessoa que merece a sua atenção, olhe em sua frente e verás que nem tudo
está perdido, pode contar comigo, foi então que percebi que a vida estava me
dando à oportunidade de recomeçar novamente...