Amor por 171

Author: Alberto Pires /


Era inverno e as nuvens estavam iguais a mim. Tristes, escuras, ameaçadoras... Sou filha única, meu pai deixou a minha mãe e partiu sem dizer adeus, com isso fui criada em cima de rígidos valores, até porque minha mãe é evangélica, achou que na religião poderia encontrar a paz que tanto necessitava, acho até que ela tem razão em pensar assim, pois se não fosse a sua fé ela não teria tanta força para conseguir juntar os meus cacos... Quando fiz dezoito anos ganhei de presente o pior dos presentes: uma paixão! Sabe aquela paixão desenfreada, enlouquecida, que não vê obstáculo capaz de nos fazer desistir? Ele era mais velho que eu, deveria ter uns vinte e cinco anos, na primeira vez que eu o vi tive a certeza que aquele cara seria o meu fim, mas mesmo assim fui em frente, ignorando todos os avisos: Perigo! Atenção! Área de risco... Mas o sorriso, o olhar, a virilidade, o jeito compenetrado e destemido, o cheiro amadeirado, o pegar no seu órgão, tudo nele era muito provocante e sedutor, e para completar ele era do mundo das drogas, com seus olhos negros lindos que tinha uma neblina cheia de aventuras a convidar... Era um cara totalmente elegante ao seu modo, quando estava comigo não sentia falta de nada, preenchia todos os requisitos, mas seu olhar era traiçoeiro, parecia que tinha um radar, principalmente quando uma fêmea se aproximava , fugia do controle, ele queria tudo e todas; ele era insaciável. Tudo começou assim: Um belo amanhecer fui para a aula de educação física, quando sai da minha casa e virei à esquina da minha rua, ele estava na espreita como se fosse um felino esperando a sua caça... Deu-me de presente matutino o seu lindo sorriso, não qualquer sorriso, mais o sorriso dele... Passou a língua entre os lábios e disse: quer uma carona mulher? Eu baixei a cabeça e disse: não obrigado, estou indo a aula; ele percebendo o meu nervosismo, saiu do carro, pegou a minha mão e logo foi falando: não se preocupe só vou fazer o que você desejar, e sorriu com um cinismo próprio dos adoráveis cafajestes, então hipnotizada cai na cilada e entrei no carro, minhas pernas tremiam, sua masculinidade era evidente, estava com a camisa aberta e pude ver cada pêlo dos peitos ao umbigo, ele me fitava pelos cantos dos olhos sabendo como ninguém o quanto estava difícil aquele momento; passava à marcha e sua mão roçava em minha coxa, era um jogo de pura sedução e minhas forças já estavam indo embora, meu coração batia descompassadamente, ele então me perguntou, quer mesmo ir para a aula? Tenho que ir respondi, ele então parou o carro e me puxou para seu corpo e me roubou um beijo, nunca vi tamanha habilidade com a boca, fui revisada, paralisada, senti um frio na barriga, ele não satisfeito colocou uma musica de Rita Lee e cantava olhando fixamente para meus olhos e repetia: você me dá água na boca... Foi golpe sujo por que o pouco de juízo que ainda restava foi por água abaixo, ele passou a mão em cada parte secreta do meu corpo, e quanto mais ele fazia isso mais temor eu sentia, e não queria que o tempo parasse. No intervalo de um beijo ele perguntou posso abrir a sua blusa? E a vergonha em dizer para ele o meu segredo?... Por sorte, minha prima me viu dentro do carro e bateu na janela dizendo: saia dai porque Tia Genoveva tá vindo ai... Sai em disparada, e ele perguntou: quando iremos nos ver? Eu respondi qualquer dia... Na saída do carro as pressas, ele colocou o numero do seu telefone em minha mão, por sorte a prima Zefinha não viu e foi logo me dizendo você está doida? Entrando no carro de Zangão, tudo sabe quem é ele? Não quis saber do relatório dessa minha prima mal amada, fui entorpecida para a escola, não fiz nenhum exercício físico porem estava toda quebrada da tensão muscular... Passou uma semana e não o vi, mas os seus beijos ficaram encravados em mim, seu cheiro impregnou-me, minha cabeça não parava de pensar, ligo ou não ligo? Mais o pior já tinha acontecido, deixei esse cara entrar em minha vida. Os dias que se passaram foram terríveis, pois não liguei e nem ele me procurou, fui então no sábado a tarde procurar uma amiga na sorveteria, quando entrei dei de cara com ele e uma menina, não pude disfarçar a minha surpresa, fugi daquele local como se fosse uma criminosa, fugindo da viatura... A imagem dele com a garota não saia da minha mente, então resolvi ligar, esse foi o meu grande erro... Ao dizer alô é o Zangão? Ele ironicamente respondeu sim sou eu mulher, então respondi: quero conversar como você é possível? Ele sorriu e respondeu: é claro, você que manda, é só dizer dia, hora e local... Zangão como o próprio apelido diz “espécie de abelha, que não fabrica mel, e come o que as outras fabricam”, assim é ele uma abelha cheia de mel e ferrões... E hoje o que mais me lembro dele, são os ferrões... O dia do encontro foi uma segunda feira à tarde, ele ia me pegar saindo da escola, me esperou em uma transversal perto da Ótica Simões, quando cheguei ao local ele já estava com uma bermuda jeans e uma camiseta branca, realçando ainda mais a sua cor, tinha acabado de tomar banho, usava sempre à barba por fazer deixando a sua virilidade muita mais aflorada, entrei e logo ironicamente me perguntou vamos para que local, e eu decidida respondi: para onde você quiser... Ele apenas me olhou pelo canto dos olhos e me disse que seja feita a nossa vontade e partiu em velocidade... Chegamos a um sitio próximo a nossa cidade, estava tudo desarrumado, mas a beleza do momento me fez pensar que estávamos em um castelo, no canto tinha vários instrumentos rurais, e no meio da sala estava um colchão velho, então percebi que era ali que ele recebia suas “amigas”... No final do corredor tinha uma peça com garrafas de bebidas, ele me perguntou quer água? Ou refrigerante? Eu respondi: nada, quero apenas conversar com você, então ele me disse então venha para cá fique bem perto de mim quero olhar para você, me aproximei e o calor do seu corpo incendiava o meu, não houve tempo para nenhuma palavra, ele me pegou pelos braços e me carregou até o colchão, e sua barba passava em meus ombros e eu toda arrepiada dizia: não faça isso; vai me machucar, ele olhava fixamente e me cobria de beijos, aqueles beijos que só ele sabe dar, fiquei ansiosa, trêmula e desconcertada, mais tinha que dizer a ele... Zangão espere um pouco, ele já estava enfiando as mãos por debaixo da minha blusa quando parou; fale: nunca fui para a cama com ninguém... Ele sorriu com os olhos e respondeu; sempre tem a primeira vez... Me abraçou e falou baixinho no meu ouvido posso te garanti você nunca mais vai esquecer... Tirou cuidadosamente a minha blusa, com os dentes tirou a minha roupa intima , dizendo baixinho vou te fazer mulher, pois é isso que você quer, passou a língua no meu corpo e umedeceu todo o percurso feito, quando tirou a calcinha do caminho, parou e olhou carinhosamente e falou: venha despir-me também... Nunca tinha visto um homem nu pessoalmente, mais que grata surpresa, ele deve ter um metro e oitenta de altura, pele morena com um bronzeado natural, cabelos negros, boca vermelha, um corpo musculoso sem ser malhado, totalmente hábil com as mãos, ele me deu de presente esse lindo e eterno momento; entreguei-me e como foi bom e intenso esse acaso do destino.. Com sua sedução me fez acreditar loucamente em suas juras de amor... Fui para casa como se fosse um pássaro livre, desses que embelezam jardins imaginários, como foi lindo aquele instante... Ao acordar no outro dia tive uma grande surpresa: Zangão tinha sido preso, por tráfico de drogas e para minha surpresa ele usou meu nome como álibi, dizendo que estava comigo naquele momento e eu tinha que ir depor na delegacia por conta disso... Minha mãe já estava sabendo de tudo e perguntava isso é verdade? Eu estava no meio de um pesadelo que não sabia como acordar. No intimo queria ajudar o meu amor, mas ao mesmo tempo sabia que com essa atitude eu mataria a minha mãe de tanto desgosto; não pude evitar as duas coisas, confirmei ao delegado a versão de Zangão, e decretei o meu fim e o da minha mãe, pois a nossa relação jamais voltou à mesma, na escola todas as amigas afastaram-se fiquei só com o meu sentimento, Zangão por não ser réu primário ficou detido e ai começou o meu fim, cada visita que eu fazia, voltava arrasada, pois ele começou a pedir-me coisas, das quais eu não tinha acesso, mais por meu amor eu comecei a envolver-me nesse caminho sem volta, um certo dia ele falou que queria uma prova de amor minha, e então respondi você não acredita no meu amor? Ele olhou-me com ameaça e pediu que levasse drogas para ele, e eu perguntei como vou entrar aqui com isso? E naturalmente me disse: coloque na calcinha se possível dentro da vagina, e o pior que segui as instruções como ele me pediu, fui com a droga dentro de mim, e na sala da revista ele tinha um soldado que era corrupto e deixava passar sem ser revistada, e ai fui ao encontro dele na sela, usava uma saia rodada e cheguei próximo à grade e recebi um puxão e fiquei rente a ele, me fez virar as costas e aos poucos foi levantando a minha saia e enfiou as mãos dentro de mim como se fosse um ginecologista... Com a minha inocência achava que eu era a única a fazer isso, porém um certo dia, um policial me chamou e disse; menina saia dessa; a pior coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa é ter um amor bandido, acorda, isso não vai te levar a nada...Eu já havia percebido o carinho e a gentileza desse Sargento Cintra, desde a primeira visita; cheguei muito nervosa e ele sempre muito atencioso tentou acalmar-me. Então perguntei o senhor esta falando isso porque? Porque ele tem várias namoradas e toda vez que você vem aqui às outras não vem, ele manda avisar para que todas não se encontrem na mesma hora, venha sexta feira e você verá com os próprios olhos... Passei toda semana angustiada até chegar o dia marcado, fui mais cedo e o Sargento Cintra me colocou em uma sala isolada, até a outra visita chegar, quando a visita começou ele veio me avisar que podia entrar, e eu com as pernas bambas fui confirmar que tudo não passou de um engano, era apenas mais uma na vida daquele 171, sair correndo até a sala em que o Sargento me escondeu, e lá pude colocar para fora todo meu rancor, meu ódio, meu remorso por acreditar naquele homem e não ter dado ouvido a minha mãe, e vinha em minha mente e agora? Como vai ser daqui para frente? Foi então que o Cintra falou: você tem uma pessoa que merece a sua atenção, olhe em sua frente e verás que nem tudo está perdido, pode contar comigo, foi então que percebi que a vida estava me dando à oportunidade de recomeçar novamente...

5 comentários:

Alberto Pires disse...

Elizabeth Barbosa Dos Santos disse no face: Obrigada Beto, amo ler tudo que vc escreve, continue mandando.

Alberto Pires disse...

Simone de Paula disse no face: ‎Alberto Luiz Pires Silva vc eh demais... Adorei como sempre!!!

Alberto Pires disse...

Ulisses Dumas disse no face: Nossa Alberto, foi tão envolvente esse conto que me senti como o personagem Zangão, só que ao invés de devorar a personagem feminina, devorei a história. Fantástica... parabéns... bom dosado... bem intenso!!! Que venham os próximos contos!

Alberto Pires disse...

Senhor das Palavras disse no face: Conto repleto de imagens que nos remete a situações semelhantes, é impressionante como o jeito cafajeste de ser atrai, mesmo que haja milhões de avisos, a pessoa não desiste da aventura. É como se a pessoa sentisse a necessidade de passar por aquilo de qualquer jeito ou não conseguisse se segurar diante de tanta sedução. Ela recomeçará. Mas, Zangão ficará para sempre na sua memória!

Alberto Pires disse...

Lilian Simões disse no face: Eu não te digo nada!!!!!kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk tá pior q jorge amado!!!!kkkkkkkkkkkk

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