Brincadeiras

Author: Alberto Pires /


No baralho do tempo vejo as pipas da minha infância colorindo o meu céu; nelas posso perceber o quanto é necessário deixar a imaginação viajar...
Olhando para o lado vejo eu rodeado de amigos jogando gude e tive a sensação que cada uma delas representa uma lágrima que deixei cair teimosamente...
Nessas idas e vindas resgatei a pureza de um tempo que não volta mais, mas que faz muita falta... Como era desafiador o jogo do baleado onde ficávamos enfileirados em lados opostos para ver quem conseguiria chegar ao fim, uma batalha que todos saiam vencedores e o que mais importava era a alegria coletiva, uma algazarra geral onde o tempo passava sem percebermos...
Quando chovia já eram tradicionais nossos banhos nas ruas, aproveitávamos as enxurradas que faziam umas cachoeiras em frente das casas e ficávamos deitados como se fossemos folhas seguindo o percurso das águas...
Com o chão molhado jogávamos triângulo, onde a cada desenho geométrico que conseguíamos fazer era um troféu conquistado.
Assim passávamos nossos dias, entre bolas, triângulos, gudes, pipas... à noite quando nossos pais pensavam que iríamos nos acalmar, saiamos batendo nas portas dos nossos vizinhos e nos escondíamos para vermos chegarem até a porta e não tinha ninguém, e a cada ida eles gritavam feito loucos nos xingando com nomes que só naqueles tempos existiam como: cabrunku, estopor, desgraça entre tantos outros.  
Nas noites enluaradas ouvíamos rodas de cirandas cantadas pelas garotas sentadas nas esteiras feitas de palhas em frente de suas casas e o refrão que guardo até hoje é esse: ”eu morava na areia sereia, me mudei para o sertão sereia, aprendi a namorar sereia, com um aperto de mão o sereiaa...”.
Foram tantas brincadeiras eternizadas em minha memoria, que povoam o meu imaginário e as vejo nitidamente... Amarelinha, guerror, esconde esconde , cabra cega , pega vareta, curral com ossos de animais, colecionar figurinhas, pular corda, pião, pintalainha ... Enfim são momentos únicos que estão memorizados, queria imensamente que essas novas gerações redescobrissem a inocência  dessa época, mas a realidade de hoje são nossas crianças presas em casa, em frente ao televisor ou quem sabe no computador, brincando sozinhas com elas mesmas, deixando a alegria encarcerada, enjaulada, encurralada, tornando-se seres egoístas. Como queria voltar ao tempo e espalhar em minha volta essa alegria despreocupada da juventude onde o alimento da alma era unicamente a euforia das nossas eternas brincadeiras.     

6 comentários:

Alberto Pires disse...

Senhor das Palavras disse no face:Não poderia haver temática mais brilhante para ser tratada do que esta. As brincadeiras daquele tempo, as vezes, resolvi me visitar nos devaneios noturnos e me deixa tão feliz que saiu para enfrentar a vida com um brilho no olhar capaz de comover, por instantes os insensíveis seres que povoam esse lugar. Lembro-me que de todas as brincadeiras mencionadas, as pipas me fascinavam de uma forma que eu não me importava com o horário das refeições, com o horário dos banhos, com o horário de dormir, com as paquerinhas da pré-adolescência, eu só me preocupava em criar as minhas pipas e depois saltá-las. Eu não me importava com a companhia de ninguém. As pipas e aquele céu azul repleto de nuvens de algodão se esgarçando na presença de São Lourenço da cabacinha de vento já me bastavam. Tudo era tão mágico que eu não queria sair dali, Não queria deixar de contemplar o céu empestado de cores como uma tela de Romero Brito. Obrigado meu caro poeta Alberto Luiz Pires Silva por me fazer reviver momentos tão extraordinários!!!

Unknown disse...

Eu sou pobre, pobre, pobre...demarrre
Eu sou rico, rico, rico....demarre deci
E era umas 15 crianças que não sabia de onde saía tantas assim...era uma lauza...que profissão dará a ele demarre, marre, marre...ele aceitou demarre, marre, marre...ele aceitou demarre, deci...e ficávamos horas naquela brincadeira. Tempos bons que hoje fora substituído pela incredulidade do ser humano. Respiro quando penso.

Que revivamos estes tempos amigo, pois foi isso que nos fez o ser humano que somos hoje! ABraço!!

Alberto Pires disse...

Elizabete Barbosa disse no face: Nas noites enluaradas ouvíamos rodas de cirandas cantadas pelas garotas sentadas nas esteiras feitas de palhas em frente de suas casas e o refrão que guardo até hoje é esse: ”eu morava na areia sereia, me mudei para o sertão sereia, aprendi a namorar sereia, com um aperto de mão o sereiaa...”. E como lembro...Boas lembranças...rrsrsrs

Alberto Pires disse...

Nestor Maia disse no face: Muito bom, muito maneiro!

Alberto Pires disse...

Rodrigo Santana disse no face: comungo com vc dessas mesmas reminiscências de infância; saudades da aurora de nossas vidas, parafraseando o poeta Casimiro de Abreu.

Alberto Pires disse...

Thais Gouveia disse no face: O sentimento de nostalgia pairou no ar.
As lembranças foram vindo a tona. A saudade de um tempo bom e gostoso que não voltará mais.
Foi lindo ver o seu caracterizar das brincadeiras de infância.
Você foi capaz de despertar sonhos e lembranças da melhor fase de nossas vidas.

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