O
primeiro
raio
de
sol
entrou
pelas
frestas
da
janela
de
madeira
rachada;
tentei
ficar
mais
um
minuto
na
minha
cama
de
lona,
enrolada
com
minha
coberta
de
taco,
mas
o
dever
me
chamava;
tinha
que
varrer
o
terreiro,
jogar
milho
para
as
galinhas,
pegar
água
em
um
tanque
bem
longe
onde
morava.
No
radio
ouvia
Amado
Batista
gritando
como
louco
o
quanto
amava
alguém,
e
eu
sempre
me
perguntando:
-
“o
que
é
o
amor”,como
começa,até
quando
dura?
Minha
mãe
falava
todos
os
dias
que
não
amava
o
meu
pai,
que
ele
foi
“uma
topada”
na
vida
dela;
e
que
nunca
sentiu
nada
por
ele;
e
gritava
com
desatino:
-
de
topada
em
topada
fui
tendo
vocês!
Ela dizia que sentia
tanto
rancor,
tanto
nojo,
tanto
desprezo...
Nas
noites
em
que
ele
exigia
que
fosse
servido,
nunca
ouvi
um
gemido,
um
sussurro,
apenas
ouvia
dizer:
-
terminou
então,
vá
para
o
outro
lado...
Nunca
presenciei
um
gesto
de
carinho
entre
os
dois,
eles
apenas
viviam
no
mundo
de
cada
um...
Um
dia,
quando
tinha
dezesseis
anos,
perguntei
a
ela:
-
mainha
a
senhora
nunca
beijou
meu pai ?
A
resposta
foi
um
murro
na
boca
e
meu
dente
voou
longe;
e
fiquei
bom
tempo
sem
sorrir,
parecia
que
eu
tinha
dito
o
maior
palavrão;
e
pude
perceber
que
em
matéria
de
carinho
minha
mãe
não
sabia
nada.
Foi
vivendo
sem
ter
o
conhecimento
sobre
o
que
é
o
amor,
apenas
ouvia
modas
de
viola
tocadas
no
radio,
ai
fui
deixando
a
minha
imaginação
acordar.Todo
final
de
tarde
sentava
no
tronco
embaixo
de
um
umbuzeiro
e
representava
comigo
mesma
uma
linda
historia
de
amor!
O
tempo
foi
passando
e
nada
mudou,
continuava
ouvindo
as
reclamações
de
minha
mãe,
as
galinhas
criaram
os
seus
pintos,
o
verde
tingiu
o
pasto
negro
e
eu
nada
sabia
sobre
o
amor...
Quando
completei
vinte
anos
começou
aparecer
um
calor
em
meu
corpo,
meu
vestido
de
chita
colava
com
o
suor,
quando
andava,
minhas
coxas
roçavam
uma
na
outra
e
comecei
a
sentir
uma
sensação
que
não
sabia
o
que
era;
não
podia
falar
com
minha
mãe,
minhas
irmãs
já
não
moravam
mais
ali
e
eu
cada
dia
mais
embaralhada
com
essas
manifestações...
No
dia
04
de
dezembro
era
a
festa
de
Santa
Barbara,
minha
mãe
me
mandou
comprar
uma
vela
na
venda
do
Sr.
Zezito
para
rezar
um
terço
em
sua
devoção;
peguei
o
meu
melhor
vestido,
aquele
que
não
tinha
nenhum
remendo,
fiz
uma
trança
no
cabelo
e
fui
com
uma
alegria
própria
das
crianças
que
iria
ganhar
um
lindo
brinquedo...
Passei
por
debaixo
da
cerca
de
arame
farpado
com
uma
rapidez
de
uma
lagartixa;
minha
alegria
era
tanta
que
não
percebi
que
vinha
alguém
na
minha
frente
montado
em
um
cavalo
branco;
quando
dei
por
mim
fui
enfeitiçada
com
os
olhos
azuis
que
me
observavam.
Passei
por
ele
como
se
fosse
um
relâmpago,
não
tive
coragem
de
olhar
para
traz,
mais
sabia
que
aquele
moço
me
perseguia
com
o
seu
olhar...
Voltei
da
venda
soltando
os
bofes
pela
boca,
coloquei
as
sandálias
entre
os
dedos
das
mãos
e
sai
em
disparada
para
a
casa,
não
olhei
nem
para
os
lados,
apenas
corri
com
todas
as
forças
que
ainda
possuía.
Entreguei
as
velas
a
minha
mãe
e
me
joguei
na
cama
pensando
somente
no
brilho
daqueles
olhos,
o
calor
do
meu
corpo
só
aumentou:
tive
que
tomar
banho
durante
a
noite
e
quando
as
minhas
mãos
passavam
entre
as
minhas
pernas
o
brilho
das
estrelas
iluminavam
como
se
fossem
vagalumes
no
terreiro...
Ao
amanhecer
não
consegui
ficar
na
cama;
aqueles
olhos
me
perseguindo,
então
veio
às
duvidas:
será
que
irei
vê-los
novamente?
-
Ou
terá
sido
uma
aparição?
Nessas
inquietações
não
observei
que
do
outro
lado
da
cerca
estava
o
mesmo
moço,
com
mesmos
olhos,
com
o
mesmo
olhar...
Não
me
chamou
mas
a
sua
presença
era
tão
forte
que
fui;
o
vento
trazia
um
cheiro
amadeirado
e
com
a
respiração
ofegante
fui
aproximando;
meu
coração
batia
descompassadamente
como
se
fosse
um
chocalho...
Ele
me
recebeu
com
um
lindo
sorriso,
os
dentes
brancos,
lábios
carnudos,
com
um
olhar
que
até
então
não
sabia
o
que
era,
mas
que
era
muito
de
bom
de
si
ver...Chegando
em
sua
frente
perguntei:
-
o
senhor
quer
alguma
coisa?
Ele
respondeu:-
quero
sim!
você!
Fiquei
parada
como
se
fosse
um
boi
a
espera
de
ser
ferrado
em
fogo
em
brasa;
era
medo,
era
desejo,
era
alucinação;
eram
muitas
sensações
em
uma
só,
mais
o
que
dizer?
O
que
fazer?
Ele
olhou
novamente
com
aqueles
lindos
olhos
azuis
e
disse:
meu
nome
é
Isidoro
quero
você!
O homem estendeu
a
mão
e
me
ofereceu
a
garupa;
e
já
dizendo:-
quer
saber
onde
está
o
amor?-
Não
tenha
medo
dos
sentimentos;
venha
comigo
descobrir
os
encontros
e
despedidas
da
vida;
e
juntos
perpetuaremos
o
nosso
amor...
Eu
apenas
respondi:
-
já
sei
o
que
é
o
amor!Ele
,
está
nos
olhos
do
Sr.
Isidoro...
13 comentários:
Alberto, estou encantada com a prosa (erus)dita sertaneja. Estou eu, também, (re)conhecendo o amor tanto nas topadas quanto nos olhos de Isidoro - dádiva para os oprimidos.
Carlos Cintra comentou seu link: "Curti muito! Lindo!"
Waldeck Francisco Alves comentou seu link: "BELISSIMO"
Marcia Gonçalves kkkkkk. Pois é. O péssimo do Alberto Luiz Pires Silva costuma transformar em literatura os fatos do cotidiano sertanejo.... Coisa de gente péssimooooooo .... kkkkkkk
Marcia Gonçalves Parece que já ouvi um conto desse, na vida real....
Rodrigo Santana Costa Que história linda Alberto Luiz Pires Silva! Num ambiente marcado pela simplicidade, com uma personagem repleta inquietações, de candura, de encantamento e diante de um sentimento misterioso que se não fosse os olhos de Isidoro, talvez ela ...carregasse para o resto de sua vida a impressão dos dissabores dos pais. É impressionante como um olhar apaixonado pode dizer o indizível, neste momento as palavras são poucas para descrever o que acontece de fato. Isso é o que eu posso chamar de uma belíssima história de um amor à primeira vista. Parabéns.
Vanda Caribe: Um olhar diz tudo o que as palavras não dizem. vc é d+
Simone de Paula : Sempre quero comentar na sua pagina e nunca consigo. Mas falaremos pessoalmente de muitas coisas. Quero passar um dia inteiro com vc, preciso de boas conversas. Te amo!!!
Lilian Simões: Isidorante Alberto Luiz Pires Silva,lindo conto!!!Verdadeiro presente para seus fiéis leitores!!!
Me fez lembrar do Primo Basílio de Eça de Queiroz.Parabéns!
Lívia Gusmão: As primeiras manifestações de amor acontecem na infância, e elas retratam as pessoas que seremos...Para saber o que é o "amor",não precisa pesquisar muito,basta observar algumas lindas e pequenas coisas...ADOREI COMO SEMPRE!!!!
Rodrigo Santana disse no face: Li calmamente... forte, realista e faz a gente pensar muito na vida da gente.. achei um texto "clariceano" e por isso amei, Clarice tinha dessas coisas. A Hora da Estrela é prova disso.
Bubua Lima disse no face : Muito lindooo!!! amei!!
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